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Transpiração excessiva

A transpiração constitui um mecanismo importante na regulação da temperatura do corpo. Em geral, ela aumenta, principalmente quando há elevação de temperatura ambiente, prática de exercícios físicos e estímulos psíquicos (como o medo, pavor, emoções violentas, etc.). A secreção do suor é estimulada pelo sistema nervoso simpático, parte esta integrante do chamado sistema nervoso autônomo (ou automático), que funciona independentemente de nossa vontade e regula nossa respiração, digestão e nossos batimentos cardíacos.

No entanto, alguns indivíduos hiperemotivos transpiram de forma excessiva - particularmente nas mãos (hiper-hidrose palmar), nos pés (hiperhidrose plantar), nas axilas (hiper-hidrose axilar), na face e no couro cabeludo (hiper-hidrose craniofacial) -, sem que haja motivação aparente para que isso ocorra e mesmo sem praticar exercícios. Diz-se, então, que são portadores da chamada hiper-hidrose emocional ou primária, cuja causa não é conhecida. Curiosamente, essa sudorese excessiva só se manifesta quando a pessoa está acordada (não ocorre em alguém sedado ou dormindo). Manifesta-se igualmente em ambos os sexos, porém, a mulher, por seu próprio temperamento, aceita menos essa condição, procurando tratamento com maior freqüência. Daí a aparente prevalência da doença nas mulheres em nosso meio.

A hiper-hidrose palmar costuma surgir na infância, agravando-se na época da puberdade, período de transição entre a infância e a fase adulta, em que a instabilidade emocional se acentua. Algumas vezes, há melhora da condição com o amadurecimento psíquico. Entretanto, muitas vezes, os sintomas persistem durante toda a vida. 

Já a hiper-hidrose axilar surge, geralmente, na época da puberdade e a craniofacial, habitualmente, na idade adulta. Na maioria dos casos, o excesso de suor palmar predomina sobre o plantar e sobre o axilar. Entende-se esse fato porque as mãos constituem segmento de relação do indivíduo com outras pessoas e com o meio em que vive. Além disso, as mãos participam ativamente da grande maioria dos esportes que praticamos e são as peças mais delicadas e reguladoras, tanto dos equipamentos quanto das máquinas usadas durante nossas atividades. As extremidades das mãos afetadas, por transpirarem excessivamente, apresentam-se frias e, por vezes, arroxeadas. Essa manifestação, evidentemente, causa embaraços, interferindo diretamente em qualquer tipo de movimento e nas esferas educacional, social, afetiva e profissional do indivíduo. 

A pessoa tende a se isolar, evitando festas, reuniões sociais e, até mesmo, namoro, pois se sente constrangida em "molhar" tudo o que toca; anda permanentemente com um lenço nas mãos para secá-las. 

Do ponto de vista profissional, as mãos úmidas podem incapacitar o indivíduo para determinados trabalhos. É o caso, por exemplo, de profissionais que lidam com equipamentos e/ou materiais elétricos. Nos casos em que a força de preensão tem que ser mantida, podemos imaginar que certamente a eficiência do movimento e a concentração do atleta estarão completamente comprometidas.

A hiper-hidrose plantar, em geral, acompanha a palmar e é agravada pelo uso de calçados fechados, que ajudam a promover lesões na pele. Além de ocasionar odor penetrante nas meias e sapatos, o excesso de transpiração nos pés favorece a ocorrência de infecções fúngicas (micoses) ou bacterianas (abscessos). Mais: determina o fato desagradável de escorregar em superfícies lisas, impossibilidade de usar sandálias e molhar o chão em quase todas as superfícies em que se pisa. Quando a hiper-hidrose axilar é predominante, um dos fatos mais notados e marcantes é a preferência quase que absoluta por roupas brancas ou pretas, pois são as únicas que podem ser usadas sem que o suor excessivo seja notado nessa região, sem mencionar, como agravante, a bromidrose (suor com odor desagradável), que também pode acompanhar o quadro.

O diagnóstico da hiper-hidrose primária é clínico, sendo que a história do início dos sintomas na infância, com o agravamento na puberdade, é suficiente para caracterizá-la. No exame físico, constata-se a transpiração significativa nas regiões citadas, que costuma ser bem evidente na ocasião da consulta - pela maior tensão emocional que o exame médico acarreta. Dependendo da intensidade, a hiper-hidrose pode ser tratada clínica ou cirurgicamente. O tratamento clínico pode ser feito com o uso da iontoforese (correntes elétricas aplicadas a soluções que banham as regiões afetadas) ou com o uso da toxina botulínica, cujo efeito é transitório, durando quatro a seis meses. 

O único tratamento definitivo para essa condição é o cirúrgico, que consiste na retirada de pequenas porções do sistema nervoso autônomo (gânglios da cadeia simpática), por meio da cirurgia chamada simpatectomia torácica, na extensão necessária para abolir a sudorese na região afetada. Quando a hiper-hidrose é só axilar, pode-se também fazer uma operação local, retirando-se glândulas sudoríparas das axilas. A simpatectomia torácica por via endoscópica utilizando o sistema de vídeo passou a ser realizada no tratamento da hiper-hidrose a partir da década de 1990. A operação é realizada em aproximadamente 30 a 40 minutos, com somente duas pequenas incisões (de 0,5 cm) de cada lado do tórax, e o paciente recebe alta hospitalar, em geral, com menos de 24 horas. 

Após analisarmos mais de 800 pacientes operados, podemos tirar as seguintes conclusões:

a) a eficácia do procedimento está próxima de 99% para a hiper-hidrose palmar, a axilar e a craniofacial;
b) cerca de 60% deles também melhoram da hiper-hidrose plantar com esse procedimento, apesar de o procedimento cirúrgico não ser específico para os pés;
c) o maior inconveniente da simpatectomia torácica é a hiper-hidrose vicariante (sudorese que, geralmente, aparece no tronco), que pode ser leve ou moderada em cerca de 60% dos pacientes e acentuada em cerca de 4%, particularmente em ambientes aquecidos, após exercícios físicos e em pacientes com excesso de peso;
d) apesar desse inconveniente, a grande maioria (96,1%) desses pacientes refere satisfação plena com a operação; 
e) a simpatectomia torácica por vídeo tornou esse procedimento cirúrgico simples, pouco agressivo e de melhor aceitação pelos pacientes. 

Após analisarmos mais de 800 pacientes operados, podemos tirar as seguintes conclusões:
a) a eficácia do procedimento está próxima de 99% para a hiper-hidrose palmar, a axilar e a craniofacial; 
b) cerca de 60% deles também melhoram da hiper-hidrose plantar com esse procedimento, apesar de o procedimento cirúrgico não ser específico para os pés;
c) o maior inconveniente da simpatectomia torácica é a hiper-hidrose vicariante (sudorese que, geralmente, aparece no tronco), que pode ser leve ou moderada em cerca de 60% dos pacientes e acentuada em cerca de 4%, particularmente em ambientes aquecidos, após exercícios físicos e em pacientes com excesso de peso;
d) apesar desse inconveniente, a grande maioria (96,1%) desses pacientes refere satisfação plena com a operação;
e) a simpatectomia torácica por vídeo tornou esse procedimento cirúrgico simples, pouco agressivo e de melhor aceitação pelos pacientes.

Dr. José Ribas Milanez de Campos, cirurgião torácico Clínica do Suor Hospital Israelita Albert Einstein

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