Refluxo Gastroesfolágico
Definimos Refluxo Gastroesofágico como a passagem involuntária do conteúdo gástrico (leite, sucos, alimentos) para o esôfago. É uma situação muito comum em bebês, desde o nascimento, e pode acontecer através da regurgitação ou vômitos.
Cerca de 50% das crianças apresentam pelo menos um episódio de refluxo ao dia até os três meses de idade, e este número cai para 23% aos 6 meses, 14% aos 7 meses e cerca de 5% entre 10 e 12 meses.
No RGE, o alimento que volta do estômago para o esôfago traz um conteúdo ácido, podendo causar a esofagite de refluxo, que clinicamente é traduzida pelos seguintes sintomas:
• Cólicas
• Espasmos
• Choro intenso
• Dificuldade para mamar
• Irritabilidade e dificuldade para dormir
• Baixo ganho de peso
O RGE pode também causar sintomas respiratórios (broncoespasmo, chiado, asma, tosse crônica).
O RGE não é obrigatoriamente uma doença. Muitos bebês apresentam refluxo de forma normal ou “fisiológica”, sem qualquer sintoma descrito acima. Estes bebês são chamados “Regurgitadores Felizes” e não necessitam de tratamento ou investigação.
Alguns bebês que apresentam RGE, porém, podem ter um ou mais destes sintomas (refluxo patológico) e devem ser cuidadosamente avaliados e tratados.
Existem duas causas principais de refluxo patológico: as intolerâncias alimentares e o refluxo anatômico, aonde o conteúdo do estômago volta para o esôfago porque o ‘esfíncter’ que fecha o esôfago na hora da digestão ainda está, temporariamente, imaturo. Assim há uma facilidade do retorno alimentar.
O primeiro ponto, portanto, é a avaliação do tipo de alimentação da criança. A intolerância ao leite de vaca e outros alimentos é uma das principais causas de refluxo no bebê. As crianças amamentadas exclusivamente ao seio também podem apresentar esta intolerância, desde que a mãe faça uso de determinados alimentos na sua própria dieta.
As crianças amamentadas por fórmulas lácteas (NAN, Aptamil) devem ser avaliadas e eventualmente o tipo de fórmula deve ser trocado para fórmulas hipoalergênicas, hidrolisados proteicos ou aminoácidos (Pregomin, Neocate).
Existem também as fórmulas antirrefluxo, como o NAN EngrossAR ou NAN Sensitive, Aptamil AR e Aptamil Sensitive Active, que são pré-engrossadas e no estômago do bebê tornam-se gelatinosas. São indicadas para os bebês que não apresentam intolerâncias alimentares, mas sim a imaturidade do esfíncter esofágico.
Outro ponto importante são as “medidas posturais” que favorecem o esvaziamento gástrico e dificultam o refluxo. O berço da criança deve ser elevado (cerca de 30°) na cabeceira – isso pode ser feito com apoios nos pés do berço ou em baixo do colchão. Existem atualmente os “berços anti-refluxo”, cuja cabeceira pode ser elevada a partir do estrado do berço, que é regulável em diferentes graus.
O bebê que apresenta RGE também deve ser mantido por mais tempo em posição verticalizada antes de deitar (no colo ou bebê-conforto), além de se evitar balançar ou fazer brincadeiras que favoreçam demais a movimentação.
Algumas crianças, cujas medidas acima não foram suficientes, devem receber um tratamento anti-refluxo, que é feito a partir dos medicamentos antiácidos e medicamentos pró-cinéticos, que ajudam regulando a motilidade do esôfago e do estômago, bem como aumentando a contração do esfíncter esofágico. Cada caso é avaliado individualmente para de adequar a medicação e normalmente o tratamento é feito por cerca de oito semanas. Estes remédios não apresentam qualquer contraindicação ou efeitos colaterais importantes, mas seu uso sempre deve ser feito com recomendação e acompanhamento do pediatra.
Os exames laboratoriais para a avaliação do RGE são importantes para aquelas crianças que estão refratárias ao tratamento alimentar, postural e medicamentoso. Nestes casos a investigação é aprofundada para se pesquisar distúrbios mais complexos que causam RGE. São exames como o RX contrastado do esôfago, estômago e duodeno (EED) e a pHmetria esofágica. Por se tratarem de exames mais invasivos, sua realização é sempre criteriosamente avaliada.
O Refluxo Gastroesofágico é uma doença benigna e transitória, que se avaliada e conduzida adequadamente não traz qualquer problema para o desenvolvimento do bebê.