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Como falar sobre morte para os filhos

Artigo escrito pela Psicóloga Clínica Carmen Alcântara*.

Contato: carmen.alcantara@uol.com.br

 

Recentemente minha filha de quinze anos me contou estarrecida, que o irmão mais novo de uma de suas amigas presenciou um coleguinha de classe de apenas doze anos, ter uma convulsão e depois saber que ele veio a falecer.

No auge de seus quinze anos, com todas as festas acontecendo, o primeiro namorado, viagens.... minha filha me questionou como pôde acontecer  aquilo e se aconteceu assim de repente, poderia acontecer com qualquer um... e que estava com medo...

 

Permiti que ela expressasse sua angústia, a dor da amiga e do irmão da amiga e pude então dizer que apesar de muito triste, a morte é um acontecimento que faz parte das nossas vidas. Que é muito raro acontecer uma fatalidade destas com uma criança, mas que aconteceu.... fez se um silêncio e logo outro assunto entrou em pauta.

 

Tenho percebido nos dias atuais que fazemos de tudo para evitar que a criança sofra ou, pelo menos, tentamos evitar que elas tenham contato com tudo o que julgamos que pode gerar dor, ansiedade, angústia e outros sentimentos semelhantes. O tema principal nesse sentido é a morte. De um modo geral, escondemos a morte das crianças: evitamos o tema nas conversas, elas não mais participam de velórios e funerais, evitamos que assistam a filmes ou ouçam histórias que trazem a idéia de morte.

 

Contudo, como lidar com algo que não se fala a respeito e que ao mesmo tempo está na mídia, na conversa das babás, na internet ou no dia a dia.

Para as crianças, sabe-se que é feio e pavoroso, pois ninguém do mundo adulto ajuda a entender, não se pode muitas vezes nem perguntar, apenas nos contos de fadas e desenhos animados se pode imaginar e fantasiar....

Por exemplo, que um dia depois de um beijo a Branca de Neve acorda, a Bela  Adormecida também...a Fada Madrinha faz mágica e vira estrela no céu e Peter Pan nunca envelhece...aliás, esta é uma das funções dos contos de fadas, os personagens fantásticos ajudam as crianças a entender e encontrar caminhos para superar, pelo menos temporariamente o que sentem, portanto estas histórias com bruxas e monstros, fadas e heróis, tem uma função importante para o psiquismo infantil.

 

Caberia ao adulto, diante do tema da morte, de acordo com a idade da criança, permitir que esta expresse o seu mal estar ou pura curiosidade, dando-lhe explicações simples e algumas vezes recorrendo aos contos de fadas.

 No caso das mais velhas, podendo ouvir as angústias e respondendo calmamente as perguntas, sem medo de também dizer “não sei como aconteceu”, mas estamos juntos...

A ida ao cemitério e aos funerais pode ser importante como forma de concretizar a idéia do “descanso ou sono sagrado” e que depois uma luz (dependendo da crença de cada um) vai para o céu.

Será também a participação social em um dos ritos de passagem assim como são tantos outros para cada comunidade. 

Diante de um  tema triste e doloroso como a morte, a criança que se sente ouvida e acompanhada por um adulto, que lhe passe transparência e serenidade, tem melhores condições de ir formatando dentro de si, uma estrutura psíquica que lhe permitirá no futuro uma maior capacidade de superação, também chamada hoje em dia pela Psicologia  de Resiliência.

 

*(Psicóloga Clínica,  Mestre pela Faculdade de Medicina – USP)

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