Autismo - Detecção Precoce
Talvez o AUTISMO seja a alteração neurológica mais controversa na pediatria. Suas definições médicas são imprecisas, sua definição leiga foi formada por mitos, estereótipos e filmes de Hollywood.
Afinal, o que é o AUTISMO? Como defini-lo? Como fazer sua detecção precoce?
A expressão AUTISMO foi utilizada por Bleurer pela primeira vez em 1911, para designar uma perda do contato com a realidade, o que acarretava uma grande dificuldade de comunicação. No século passado inúmeras vezes o AUTISMO foi associado a grupos de crianças com características semelhantes, todas que apresentavam sintomas comuns: dificuldade de comunicação social e inabilidade em estabelecer contato afetivo.
O AUTISMO não é uma doença única, mas sim um distúrbio de desenvolvimento complexo, definido de um ponto de vista comportamental, com causas múltiplas e graus diversos de severidade. Um fator muito importante é a habilidade cognitiva.
COGNIÇÃO = AQUISIÇÃO DE UM CONHECIMENTO;
PERCEPÇÃO
As manifestações comportamentais do AUTISMO incluem déficits qualitativos na interação social e na comunicação verbal e não verbal, pobre ou nenhuma interação social, incluindo contato visual, e padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades. Existe uma enorme variabilidade nos graus de habilidades sociais e padrões de comportamento que ocorrem nos autistas, o que tornou mais apropriado o termo TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) para designar o autismo.
Os sintomas dos TEA podem muitas vezes ser observados antes dos dois anos de idade. O diagnóstico precoce das manifestações autistas tem despertado grande interesse, já que intervenções terapêuticas precoces podem atenuar problemas a longo prazo. Inclusive o aconselhamento genético é um fator muito importante, visto que muitas doenças inclusas nos TEA têm causas genéticas (como a Síndrome de Angelman e a Síndrome do X-frágil).
Estas alterações dos TEA antes dos dois anos de idade são sutis e sua percepção é difícil para pais e pediatras. De acordo com estudos ingleses, as alterações são percebidas em média a partir de um ano e 7 meses de idade, mas o diagnóstico definitivo só é feito aos seis anos de idade. No entanto, quando direcionado o diagnóstico, os pais referem que seus filhos já apresentavam sintomas antes de um ano de idade em 55% dos casos.
Quais são estes sintomas?
Lembre-se: NENHUM destes sintomas abaixo faz, isoladamente, o diagnóstico de autismo. São somente alterações que devem nos deixar alerta!
Estudos têm mostrado que o reconhecimento precoce do AUTISMO está relacionado ao que se tem chamado de joint attention, que são "comportamentos que se desenvolvem antes da linguagem", envolvendo a CRIANÇA, OUTRA PESSOA e OBJETOS que a circundam:
· São crianças que não voltam atenção quando seu nome é chamado,
· Que tem falta de interesse por brinquedos adequados para a faixa etária,
· Que não fixam o olhar nos olhos e rosto de um adulto,
· Que não pedem ou não apontam o que querem,
· Que, aos 12 meses, não balbuciam nem apresentam qualquer tipo de linguagem (apontar, gritar...)
· Que, aos 16 meses não falam sequer palavras soltas, ainda que incompreensíveis,
· Que aos 24 meses ainda não constroem frases de duas palavras,
· Ou aquelas que apresentam qualquer perda na linguagem ou capacidades sociais em qualquer idade.
Estas são as possíveis alterações precoces presentes nos autistas. Como citado anteriormente, outras alterações começam a surgir com o passar dos anos:
· Fascínio (de forma obsessiva) com o movimento de certos objetos, como hélices, peões, rodas...
· Movimentações repetitivas e circulares dos membros superiores e inferiores.
· Uso de brinquedos de forma 'diferente', sem sua finalidade simbólica (crianças mais velhas).
· Dificuldades de entender sutilezas de linguagem, piadas ou sarcasmo (adultos).
· Tendência ao isolamento, mesmo tendo boa habilidade cognitiva.
· Obsessão e fixação com certos dados: horários de aviões/trens, telefones, datas, etc. (adultos).
Quanto mais cedo for feito o diagnóstico dos TEA, melhor será a abordagem terapêutica e o desenvolvimento a longo prazo. Pediatras, neurologistas, psicólogos e fisioterapeutas devem se unir na difícil tarefa do diagnóstico e se empenhar em providenciar para os pais a conduta mais certa para atingir o melhor prognóstico possível para cada criança.