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Adolescência: algumas reflexões

Carmen Alcântara*

 

Vivemos tempos de muita conectividade, exposições e troca de informações através das redes sociais e me pergunto se nós, pais, estamos realmente “conectados’ e “antenados” com nossos filhos adolescentes.

 

Recentemente uma das minhas filhas adolescente, me mostrou um convite de uma balada que está sendo divulgada pelo facebook para jovens entre 14 e 20 anos, chamada House Party´s, que me causou surpresa. Organizada por um grupo de jovens entre 16 e 19 anos, de classe média alta, a festa será em uma enorme casa, alugada por eles e no convite os “atrativos” são variados: Open bar (com a descrição de várias bebidas alcoólicas); “tequileiros(as)” (garotos e garotas contratadas para despejar tequila com um funil “garganta abaixo”); concurso da saia mais curta valendo um champagne para a vencedora e por aí vai...ao preço médio de cinqüenta reais o convite.

 

Fico sabendo que as mais interessadas são as meninas na faixa de 15, 16 anos, mas que algumas de 13, 14 também querem ir, (no convite, a idade mínima é 14 anos).

Tal convite resultou em um longo papo sobre abuso de bebidas por adolescentes, apelos sexuais, falta de limites, distanciamento dos pais em relação aos filhos... e a difícil arte em dizer NÃO...não é lugar para ninguém com 14 ou 15 anos, mesmo que os pais de fulano ou cicrana permitam, possivelmente sem terem visto o tal “convite”.

  

A adolescência é um período dos mais difíceis para os pais. Os filhos nesta fase estão deixando a infância e tentando entender e entrar no mundo adulto. Eles buscam se diferenciar dos pais e encontrar suas próprias identidades. As brincadeiras de outrora já não causam mais nenhuma emoção e estão em busca de novas sensações - a explosão hormonal e variados estados de humor que a acompanha, somado a outros fatores, faz com que esta busca, de uma forma geral, seja sempre imediatista e premente.

 

Apesar de grandes e quase maduros do ponto de vista físico, o emocional é imaturo e está fragilizado pela instabilidade da transição e do luto pela criança que estão deixando de ser.

Apesar de “coerentes” no discurso e com um razoável nível de abstração do pensamento, pecam pela falta de noção dos riscos e oscilações entre onipotência ou impotência do que são capazes.

Cabe, portanto a nós pais, ajuda-los a amadurecer, com muito diálogo, muita proximidade, exemplo e limites, tomando o cuidado para não se fazer de “brother” ou de “mãe amiga”, pois além de inadequado aos papéis, não há nada que os adolescentes mais ridicularizem.

 

Truculência e autoritarismo sem argumentos claros também não resolvem e podem gerar mais revoltas.

É necessário sim, a meu ver, sair da zona de conforto, estabelecer limites e estar à frente das situações. Isto significa, por exemplo, levantar de madrugada e ir buscar o filho na balada ou pelo menos levantar e dar um beijo de boa noite para perceber o estado que o jovem chega em casa...ou se ele nunca quer sair de casa, o(s) por quê(s)...quais festas e quais horários são adequadas para cada idade.

 

É nesta fase que iremos colher os frutos daquilo que plantamos lá trás na infância, se estivemos próximos a eles, exercitando o diálogo no dia a dia com a criança, teremos mais chances de que seja um pouco mais fácil.

 

Tenho observado atualmente tanto na clínica quanto fora dela, pais de crianças pequenas com pouca ou nenhuma disponibilidade para estarem mais presentes no dia a dia de seus filhos. Há uma tendência a “terceirizar” a criação e por vezes a educação das crianças, a meu ver, com excesso de confiança nesta terceirização. Afirmo isto, pois a “terceirização” costuma não ter segundo, às vezes nem primeiro grau e algumas vezes não se tem certeza da verdadeira índole e antecedentes pessoais.

 

A escola por outro lado, tem por função a formação acadêmica, humana e civil dos alunos, contudo se o exemplo e a educação básica não vierem de casa, ficará muito difícil para a escola cumprir bem a sua missão.

Portanto, a real conexão e a arte de educar os nossos filhos começam muito cedo, ela demanda tempo, esforço, paciência, muita paciência... ninguém disse que seria fácil mas pode valer muito a pena, cada minuto dedicado!

 

 

* Psicóloga Clínica e Mestre pela Faculdade de Medicina - USP

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